domingo, 10 de maio de 2009

COMO GAÚCHO COM A SUA BOMBACHAS

Marcos Seiter
Uma vez recebi uma mensagem estranha pelo meu celular. Não, foram várias mensagens estranhas durante uma semana. Foram declarações de amor. A mensagem era de alguém que dizia que estava apaixonada por mim, que adorava meus olhos, e que quando os viu, foi amor a primeira vista.

Eu fiquei apavorado e me dirige a minha mãe dizendo que me enviaram uma declaração de amor. Minha mãe perguntou-me quem tinha enviado as mensagens e eu disse que quem assinou as mesmas foi um tal de Paulão. Minha mãe acompanhada de meu padrasto, riu sem parar. Achando tudo aquilo uma maravilha. Uma celebração de Ano Novo.

Eu como disse anteriormente, fiquei apavorado e não sabendo o que fazer.

No outro dia resolvi ligar para o tal do número do Paulão. Liguei. Chamou uma vez. Na segunda chamada atenderam. Perguntei quem era que falava. Era Paulão. Tinha voz grossa. Como de um narrador de Barretos diante daquele público eufórico pela emoção em ver o peão em cima do boi, do touro ou do cavalo. Onde o peão tenta com toda as forças nos punhos, dominar o animal. Fiquei como um dos animais, dominado não pelas mãos, mas pelas cordas vocais daquele hombre.

O mais interessante desse fato, é que era brincadeira dum amigo que estudava comigo e que fazia musculação na Academia Bella Forma, no centro de Porto Alegre.

Fiquei sabendo que era ele quem tinha aprontado essa brincadeira comigo, quando ele já tinha mandado não apenas uma mensagem, mas várias, durante uma semana. Com carinho e tudo. Na aula que era o mais engraçado, enquanto eu prestava atenção nas explicações do professor, ele com o celular debaixo de umas de suas pernas, enviava as mensagens. Nas mensagens dizia que estaria me esperando na frente da escola para me dar um beijo de boa noite.

Sofri todas as consequências de uma possividade doentia de uma pessoa pela outra. Em todos os lugares que ia, suspeitava de até quem não me conhecia, pois o modo como ele fez essa brincadeira, sem eu suspeitar de nada, foi incrível. Ganhou o Oscar do pega Bobo.

Aprendi com essa brincadeira. Sofri com essa manipulação. Vi como as pessoas não o levam a sério em situações como essa. Mesmo tu sendo franco. Como gaúcho com a sua bombachas. Onde uma pessoa envia mensagens que está apaixonado por ti, que quer te ver, se eu não respondê-la, arrebentará sua cara. Sim, recebi ameaças na esperta brincadeira de amigo, Rodrigo.

Felicidade seria se brincadeira como essa, fosse somente brincadeira.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

MEMÓRIA


Marcos Seiter

Minha memória revira o passado.
Ela exerce a função do retrato falado.

Desenha em momentos
em momentos

minhas pegadas deixadas para trás
nas minhas caminhadas.

Tatua o que deixei de lado.
Marca ainda mais meus passos vividos.

domingo, 3 de maio de 2009

VIDAS SECAS

Para você que gosta de ler, indico: Vidas Secas, de Graciliano Ramos.



Graciliano é um dos romancistas nordestinos mais importantes da nossa literatura. Conquistou a paixão popular, através desse romance.
O mesmo é duma maravilhosa escrita.
Lendo Vidas Secas tu vais descobrir que, Graciliano Ramos, procura dialogar com o leitor através de interrogações correntes no caminho da história de Baleia, Fabiano e Sinha Vitória.

sábado, 2 de maio de 2009

CARTA PARA MEU VÔ

Marcos Seiter
Vô, vejo o senhor com a minha vó. Ali no pátio de meu tio, seu filho, Filomeno. O senhor visitava-nos. Vindo de Santo Augusto. Interior do Rio Grande do Sul.
O céu estava fechado naquele dia com nuvens cinzas. O João-de-barro que morava na árvore que foi derrubada(que lhe protegia dos raios-ultravioletas do sol), do pátio em que o senhor estava, observava o senhor como eu, com os olhos centrados.
O senhor usava um chapéu-de-palha, vestia uma camisa branca social de manga curta e uma calça bege. Não lembro se estavas de chinelo ou de sapato. E mastigava (minha mãe revelou-me dias antes de o senhor chegar, que costumes tinhas), como de praxe, seu charuto entre os dentes. Sua boca era pequena. Seus lábios quase sumiam diante de seu rosto. Assim como são os meus. (Lembro dos seus, pelo sorriso do senhor.) Eu olhava para os dentes do senhor e para as suas unhas, via-os amarelados. Eu deveria querer mastigá-los também. Eu queria ver os meus dentes de poucos anos, minhas mãos de poucos anos, amarelados também. Não podia tê-los. O fumo de hoje é o melhor consumidor de dentes, de mãos, de pulmões, de todos os órgãos humano. A Cuba não é o Brasil, vô. Onde o principal fumo é o charuto. Que peninha eu tenho do Brasil.
Vô, a minha vó, sua mulher, acompanhava o senhor. Ela estava de vestido azul. A decoração do mesmo era desenhos de flores brancas, com tons de diversas cores. Era o vestido que ela adorava usar. Lembro que muito subia e descia a lomba da Rua Sargento Vitório com o mesmo.
Hoje, se o senhor estivesse vivo, estaria completando 106 anos.
Sempre lembro do senhor com muito afeto. O ambiente que descrevi aqui, é o que está vivo em minha memória. Desde muitos anos atrás. Quando nem falava direito. Quando nem sabia o que era vida. Quando nem sabia que estaria aqui escrevendo o que eu sinto pelo senhor: amor.
Vô, esteja com Deus.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

ESTOU DE ANIVERSÁRIO

Arte de Carlos Meinardi

Marcos Seiter




Estou num cantinho de mundo:
Sobre os olhares mais leves e profundos.
Sobre a água mais suja e mais limpa.
Onde cai em minha pele a chuva de poluentes.
Onde tinge a minha pele a terra fétida do descaso.
Onde transpiro o meu suor imundo.
Onde respiro o ar mais podre do meu desafeto.
Não sou poeta!
Sou um humano qualquer.
Acabo de fazer aniversário.
- Bem-vindo, Marcos!