quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

3.6 Ligação

(Olá amigos! Seguimos em frente! Resolvi pôr o título da estória em vez de "segue" ou "continua a estória. Para quem quiser acompanhar está convidado(a). Postei o primeiro capítulo dia 23 de novembro. Abraços e até logo!)



Amor, espera uns minutos que já t mando mais mensagem, pois acho que tu não leu nenhuma ainda por estar em aula.




Chegou o meu intervalo de aula e fui ver que horas era no meu celular. Também verificar se estava certo com o horário da escola. Lá na escola o intervalo era sempre das 20:45hs às 21:00hs. Quinze minutos para descansarmos a mente, nos distrairmos. Então fui ver que horas era, ao conferir a hora, me deparei com uma carta no canto esquerdo do meu celular. Sempre quando tem alguma mensagem, a cartinha aparece. Fiquei ansioso para saber de quem era, e o que estava escrito nela. Pensei também: tomara que não seja do Paulão, pois ele está se tornando uma assombração na minha vida, um desespero, uma perturbação. Fui ver de quem era a mensagem, e era do Paulão. Mensagens, claramente dele, pois cheias de carinhos e amor. Não tive nenhuma dúvida de quem foi ele que mandou. Mas agora as mensagens(mandou-me uma atrás da outra) eram diferentes. Tinha, vamos dizer assim, uma troca de idéia, pois ele estava me dizendo dos assuntos que gosta de discutir, sem ao menos saber se eu gostava ou não daquilo que ele tanto me falou. Sinceramente gostei muito das suas idéias, do que gosta de debater, saber, e concordo plenamente com ele, que a maioria tem como assunto predileto: “novelas, vidas de famosos(as); tudo que envolve o ‘mundinho’ dum cidadão brasileiro que gosta do que vê só na tv”. É lamentável isso! Mas o que podemos fazer para que este quadro mude? A burrice está ganhando de dez a zero da inteligência. Inteligência que todos possuem, só que uns sabem usá-la para algo que os fazem pensar, e os outros usam-a para ficar que nem bobos, aéreos sem saber em que chão andam pisando. Essa irrealidade, essa ilusão, é medíocre. Vão continuar(os que alimentam isso) na mesma, com o seu sonho sem fim sem concretização.
Acabei de ler todas as mensagens que ele me mandou. Fiquei pensativo. Muito pensativo que durante a aula, continuava quieto e relendo as mensagens que ele tinha me mandado. Li e reli diversas vezes até que recebi mais uma mensagem: “Amor, desculpe! Desculpe pela demora em te mandar outras mensagens, mas é que; sabe de uma coisa: eu já estou de saco cheio por mandar várias mensagens pra ti, ligar diversas vezes e tu não me responder. Eu ando indignado com tudo isso! Eu preciso de carinho, de atenção, e tu não anda correspondendo-me. Amor, por que tu faz isso comigo? Saiba que com isso eu te quero mais e mais. Mas ao mesmo tempo que te quero tanto, vejo que tu não se mexe. Se tu não responder vou aí te pegar na hora da saída. Sei aonde que tu estuda e sei que horas tu saí. Sou negro, alto e forte! Vou te pegar se tu não me responder, pois isso já esgotou a minha paciência, meu carinho, pois só eu te mando mensagens com carinho e amor.
Vou te esperar aqui na saída da escola. Beijos pra ti, Amor!”. Quando terminei de ler está mensagem fiquei mudo, quieto, com as mãos suando, estavam brancas, nenhum sangue corria nelas. Meu coração pelo contrário estava batendo a mil por causa do meu nervosismo com essa situação. Pensei em responder para essa louca, mas não respondi. Então fiquei de olho no relógio e pensando se era melhor ir embora naquele horário de sempre que era 22:20hs ( O professor nos liberava neste horário, pois 22:30 era muito tarde para a maioria. Alguns colegas meus, moravam do outro lado da cidade, como exemplo: Lami e Restinga, considerados bairros distantes do centro de Porto Alegre. Chegavam em casa mais ou menos meia noite e meia. Isso quando os ônibus não se atrasavam).
É ruim quando tu depende de ônibus para chegar em casa, e ainda a insegurança que mora em qualquer localidade. Pensei, pensei e pensei. Continuei pensando até que cheguei a uma saída. Naquela noite de quarta-feira, estava muito cansado. Meus olhos estavam vermelhos e minha cabeça começava a latejar de dor, creio que por fome e cansaço. Bah, neste horário qualquer um que trabalhe e estude ficaria neste estado: morto. Já era 22:10hs quando decidi ir embora às 22:30hs. Decidi quando falei para um colega meu a respeito do que estava acontecendo. Mas falei pra ele porque ele perguntou. Se ele não perguntasse não diria nada. Não gosto de falar sobre mim, pois ninguém tem nada a ver com a minha vida, ainda mais quando é particular. Mas neste caso resolvi falar, pois era meu colega de aula e ele ainda fazia academia comigo à tarde. Antes da aula. De segunda à Sexta. Das 16:30hs às 18:00hs. Meu colega era o Edmilson. Ele perguntou por que eu “olhava” para o meu celular a toda hora. Falou que eu “estava muito quieto”. Que eu estava “estranho”. Perguntou o que estava acontecendo. Por que nunca fora me visto “daquele jeito, um cara preocupado, perturbado”. Resolvi então dizer pra ele que tinha uma bicha-louca me mandando mensagens, com declarações de amor. E disse que ele ou ela(nem consegui responder direito pra ele, porque o nervosismo tinha me dominado)mandava-me mensagens, ligava-me a todo momento, e disse que hoje, na hora da saída, vai estar me esperando na frente da escola. Disse isso a ele, e ele apavorado me respondeu e perguntou, mas ao mesmo tempo em risos: “Não acredito! Ahhhhahahahhahahahahh!!! Sério? Desde quando isso está acontecendo contigo? Desde quando? Bah! Ahahahahaahhahahhahaah!!! ”. Com a resposta “Não acredito!”, com suas perguntas e risos, acabei ficando mais nervoso a ponto de descer correndo as escadas da escola e partir pra cima daquela bicha que estava me perturbando. Eu não estava nem aí para o que ia acontecer. Se guerra é guerra, então vou guerrear e acabar com tudo isso. Não importa o que vai acontecer comigo. Meu amigo por outro lado me aconselhou que eu esperasse o professor nos liberar. Ele disse que me acompanharia na saída da escola juntos. Fiquei um pouco tranqüilo com isso. Então segui seu conselho de sairmos somente no fim da aula, enquanto ele me olhava. Faltando uns minutos para nós sairmos da sala de aula, recebo uma mensagem, a última da noite de Quarta: “Amor, desculpe-me pela outra mensagem! É que fiquei muito brava. Realmente estou cansada disso. Fico aqui perguntando-me: Será que ele tá afim de mim? Será que é só eu? Quero aproveitar meu “bem” e pedir desculpa por ter te ameaçado. Desculpa! Estava só brincando contigo! Relaxa, Amor. Tenha uma boa noite de sonhos! Beijos !” . Mesmo recebendo essas “desculpas” não afrouxei e continuei com o pensamento que ele ou ela ia me esperar na hora da saída. Continuava nervoso e pensativo. Meu amigo acompanhou-me até a saída da escola. Resolvi(eu) sair em disparada. Deixei meu amigo para trás. Ele resolveu então correr atrás de mim gritando meu nome: Claudio, Claudio, me espera aí! A saída da escola para ter uma idéia era(e é) de frente para uma rua muito movimentada do centro de Porto Alegre, a rua Alberto Bins. Sai correndo. Logo na saída vi um sujeito negro passando na minha frente. Fiquei encarando-o . Ele não teve nenhuma reação. A não ser de me olhar e se perguntar(creio eu): “Por que este rapaz está me encarando?”.
Meu colega seguiu correndo atrás de mim, gritando pelo meu nome. Ele me alcançou do outro lado, e disse: “ Tu viu ele ali? Era o negão! Sério! Era ele! Eu já vi ele na academia!”, e eu o respondi que não era aquele cidadão que passou. Não era alto nem forte. Era um homem com uma estrutura normal. Ele continuou insistindo que aquele cidadão que passou na minha frente, era o tal do Paulão, negro, alto e forte. E eu respondi que não! Mas o desespero, o medo, fez com que eu acreditasse que realmente fosse aquele senhor.

Nesse momento duvidamos de tudo. Não sabemos o que passa na mente, nas atitudes das pessoas. E ainda por cima eu nem sabia quem era o tal do Paulão que me ligava. Nem sabia se ele era o que dizia ser “Alto, negro e forte”. Não sabia de nada! Então depois de conversar com meu amigo decidi seguir sozinho. Ele ofereceu sua companhia até pegar meu ônibus que passava às 22:45hs, não aceitei. Disse pra ele, falsamente, que tudo estava bem. Mas por dentro o nervosismo consumia-me. Eu seguiria sozinho até o ponto de ônibus, na avenida Salgado Filho. Então ele me deixou ir só. Subi a rua Senhor dos Passos correndo, desesperado, cuidando todos os lados em que corria. Enquanto subia correndo, as pessoas me olhavam curiosas. Cheguei até a avenida João Pessoa, uma parada antes do fim da linha que fica na Salgado Filho, próximo à Redenção, de frente para a Ufrgs, e fiquei tranqüilo. Fiquei dali em diante atento as pessoas que se aproximavam da parada, e naturalmente de mim. Torcia que meu ônibus aparecesse logo para eu ficar um pouco escondido. Na verdade rodando por aí. Graças ao tempo ele veio, exatamente 22:45hs. Peguei-o e logo ao entrar fixei meus olhos em cada um que estava dentro do ônibus . Desde o primeiro banco de passageiros, dos 46 existentes, percorri meus olhos para ver se esse tal Paulão estava dentro dele. Por alegria minha, não tinha ninguém suspeito.

Um comentário:

Kari disse...

Aí que agonia.
Me senti o próprio "Cláudio" e toda sua angústia e desespero...
Agora ele vai viver angustiado e achando que tá sendo seguido.
É sim, o Paulão até que tem um bom papo, pena que é um cara apaixonado por outro, né?
Essa estória tá cada dia melhor em!!!!!

Um beijão em tu