quinta-feira, 30 de outubro de 2008

TUCAMAIA


Arte de René Magritte

Não consigo viver dentro de casa com a louça suja na pia, com a vassoura de lado e o chão imundo. Meus irmãos deitam-se diante da panela aberta de feijão no fogão.

Eu já não consigo o que eles conseguem com tamanha facilidade.

Chamam-me de perfeito e careta. Mas "perfeito" não sou, muito menos careta. Procuro sensibilizar pequenas atitudes que ajudam a manter o ambiente material da casa, limpos. Desde criança eu sempre cuidei da casa. Aos dez anos de idade, já fritava ovos na frigideira e nunca me queimei com o fogo. Algumas vezes o azeite respingou em mim, deixando um pouquinho a minha pele queimada. Mas nada demais. Enquanto minha mãe trabalhava de baixo de muito trabalho, eu cuidava de meus irmãos. Sempre fui responsável.

Claro, como qualquer criança normal, também aprontei muitas infantilidades, que é comum neste período.

Briguei e apanhei muito. Tenho até um apelido que poucos ainda me chamam: Tucamaia.

Tucamaia porque quando eu brigava, ao levar um soco qualquer no nariz, jorrava sangue das narinas, deixando minha boca e meu queixo cobertos do mesmo. Me maquiava sem querer querendo. Parecia um palhaço. E um dia, por desespero, por sentir o calor de meu sangue escorrendo sobre minha garganta, falei para o meu inimigo:

- No nariz, Não!

Os que acompanhavam aquele espetáculo, debocharam do meu dizer, que acabou no apelido "Tucamaia".

E ao perceber sujeiras materiais em casa, fico agoniado e me vêem na mente quando eu criança, sofria junto com a minha mãe e meus irmãos, por nós vivermos como mendigos, solitários naquele banhado em que ficava nossa casa. Composta de tijolo e cimento.

O ontem pareço viver hoje. É como viver em círculos. Pessoas crescem e amadurecem. Outras somente crescem. O que que custa limpar uma louça, varrer uma casa e deixar o ambiente mais harmonioso? Sujeira traz desânimo, estupidez, doença e outros organismos que nos atacam sem intervalo. As pessoas das cidades grandes se entregam ao desnecessário. Deixando o que é necessário de lado. O que é mais importante numa casa, composta por mais seres, do que a limpeza? Limpeza é saúde. Com ela se obtém o amor universal. Espírito livre para voar. Com a sujeira só se tem presente o amor por si só. Poderoso somente numa célula.

Aprendi com a fraternidade de minha mãe a ser o que eu sou.

Meu pai deixou eu e meus irmãos sozinhos com a minha mãe. Mesmo nós sendo diferentes em certos pontos de vista, nos amamos e isso nos dá força para seguirmos sempre um de olho nos outros, pois somos três irmãos.

Mendigos minha família não é mais, quando se está cheirando limpeza.

10 comentários:

Candy disse...

Parece que eu tava vendo minha irmã nesse texto.
Eu sou organizada e detesto bagunça e sujeira. Simplesmente não consigo conviver em ambientes assim, paro tudo o que estiver fazendo e vou ajeitar/limpar.
Mas realmente tem gente que consegue, e aí entra minha irmã.
hehe
E ela entra não só na parte da bagunça, mas tb de estarmos juntas, assim como estamos com meus pais. Nada de família perfeita, com certeza não. MAs uma família que se ama.
=)

;*

Camila disse...

Marcos, Marcos... família é um tema tão complexo e simples ao mesmo tempo! Amor...
"Aprendi com a fraternidade de minha mãe a ser o que eu sou. "
O que sou devo a minha mamis!
Gostei da forma do texto e as metaforas!
Beijo e um ótimo final de semana

Luifel disse...

Caramba rapaz! Gostei desse seu conto. Eu quase podia visualizar a casa, o tal personagem narrador q na minha cabeça tem na casa dos 20 anos, os irmãos desorganizados e a familia.

Me fez lembrar da infancia do meu pai, q ele e meu tio volta e meia contam...

De fato, é a familia q forja nosso caracter mesmo.

Abção!

Lais Camargo disse...

crescer é doloroso...
ontem foi aniversário do meu irmão mais novo, já está mais alto que eu, uma dor alegre ao deixá-lo na porta de uma boate pela primeira vez... Acontece deles sairem debaixo das nossas asas um dia...heheh

sopros
=***

[Farelos e Sílabas] disse...

...

Olá!

O bom na leitura que fiz de suas palavras é perceber que você se abriu para os pequenos gestos das grandes lições. Gostei quando falou da fraternidade aprendida com a mãe.

Há muito o que se aprender na escola-vida. Quem é que pode dizer que já aprendeu tudo, não é mesmo?

Parabéns pelo texto, uma simplicidade que chama a atenção!

...

Anônimo disse...

não gosto também de sujeira :P as vezes sou organizada demais ;x


beeeijos

Alexandre Lucio Fernandes disse...

Uma casa desorganizada e suja não é muito harmônica, muito menos higiênica.

É bom cuidar da limpeza sim. eu as vezes me enojo com algumas coisas aff.

hehe

Grande abraço.
;)

Flávia disse...

Explica pra mim o que é Tucamaia? ;)

Nanda Nascimento disse...

É bom demais saber que tem muitos homens assim, naõ acho que ninguém deveria ser fanático por limpeza, mais no mínimo cultivar um ambiente limpo e saudável.

É muito bom saber através dos seus textos um pouco mais da sua pessoa.

P.s: Eu já tinha até lido seu texto, mais por causa da correria de monografia só agora estou comentando.*rs*

Beijos e flores!

Unknown disse...

ola


gosto do seu blogue e por isso passarei por cá mais vezes.

Boa semana

http://arte-e-ponto.blogspot.com