domingo, 4 de janeiro de 2009

A INSATISFAÇÃO DE MEU COLCHÃO COMIGO NÃO É NADA


Arte de Calder


Meu colchão está emburrado comigo.

Deixei-o sozinho por alguns dias.

Ele resolveu soquear minhas costas com todo seu corpo.

Minhas costas estão doloridas.

A dor dele causada pelo vazio do meu corpo deve ter sido maior. Mas não tenho culpa por deixá-lo na companhia de meus livros, da TV que desliga sozinha ao alguém ligá-la, do roupeiro desbeiçado pelo tempo, que ainda guarda as minhas roupas e as de meu irmão (André), do rádio que pega as estações AM e FM. Só que não toca nenhuma fita e muito menos roda algum cd. Quem adivinharia que eu o deixaria sozinho? Sem corpo para acolher?

Passei 18 dias em um colchão diferente. Era de mola. Dum tom branco. Ele vivia coberto dum lençol rosa. Sua companhia durante os dias quentes era um travesseiro branco com bolinhas vermelhas. De vez em quando ia a cachorrinha da minha namorada nele e arrastava o nariz.

Passei noites boas em sua companhia.

O meu colchão estranhou meu corpo. O que não aconteceu com o outro.

Sorte que minha mãe não me estranhou na volta de minhas férias como meu colchão. Tivemos um encontro inusitado em direção a minha casa. Ela me viu vindo com a mala num braço. O outro braço abraçou-a com as palavras suas em meus ouvidos: "E essa barbicha!" Eu devolvi seu carinho com sorrisos.

A estranheza dum material, como o colchão, com o meu corpo, é natural. Estranho seria se eu sentisse frieza do carinho de minha mãe para comigo.

Marcos Seiter

7 comentários:

ADRIANO NUNES disse...

Caro Marcos,

Surreal e lindo!

Abraços!
Adriano Nunes.

Kari disse...

A tua mãe jamais te trataria com frieza, meu bem! Não sendo ela quem é!

E, posso dizer que o outro colchão... O tal da mola, já sente tua falta...

Beijo da Tua Pequena

Auíri Au disse...

Caraca!!!Visual novo..
Maravilha!!
Ficou mais leve...

Feliz dois mil e love parceiro!!


Abraços

ADRIANO NUNES disse...

Marcos,

Fiz um poema para a minha mãe e dediquei a você e a Ana Tapadas(Portugal) os quais sempre se referem às respectivas mães com muito amor. Dá uma passada lá ok. Espero que goste.

Abraços,
Adriano Nunes.

Luifel disse...

Pois é,

O seu colchão deve ter sentido a sua falta. Sorte q vc foi bem acolhido pelo outro colchão e pela dona dele...heheh

Abção rapaz!

Anônimo disse...

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Anônimo disse...

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