Arte de Paul Klee
Que tarde estranha. Que tarde quieta. Que tarde indecisa.
Sou eu e essa tarde na companhia dos passarinhos que cantam suas musiquinhas de encantar em qualquer momento. Mas essa tarde não está ainda menos estranha. Ainda está quieta. Ainda está indecisa.
Fiquei na companhia dos passarinhos que cantavam suas musiquinhas nada melosas, mas com um ar de "viva a vida! Tenho vida e isso é tudo! Posso voar! Posso ver! Posso cantar!"
Passarinhos entendem-se. Eu, humano, não me entendo tanto.
Penso erradamente que entendo o que ainda não entendo.
O domingo à tarde foi vazia. Pouco ou quase nada de vida. Os passarinhos nas laranjeiras do pátio de meu tio, Filomeno, é que davam vida. Faziam a festa.
O meu cãozinho, Scubby, latia de vez em quando, contribuindo com os passarinhos.
Os pernilongos me perseguiam na área e até dentro de casa, mordendo meus calcanhares, enquanto lia Veríssimo.
Consegui com as minhas paradas na leitura, matar 4 ou 5 pernilongos que me mordiam, parecendo pedindo:
- Saia daqui! Esse é nosso canto!
Ignorei os assobios deles. Matei-os.
Agora já é tarde demais para voltar atrás. À tarde já foi embora. Os passarinhos não cantam mais. Minha mãe que foi colorir as unhas da mão de pele e a dos pés de paixão, voltou sorrindo. Meus irmãos que saíram 16:30h à procura de rabos de saia, ainda não chegaram.
O céu que esteve toda a tarde cor de chumbo, agora ficou preto de vez.
O silêncio será quebrado mais uma vez. Só que agora pelo pingar da chuva e pela minha inquietação com uma tarde vazia. Que no fim de contas não foi tão vazia.
- Esqueceu que eu posso voar, ver e cantar?
A solidão não foi minha companhia nessa tarde. O mal do século não chegou perto de mim. Se chegou, nem senti. Nem dei bola. Os pernilongos e os passarinhos agradeceram minha atenção.
Marcos Seiter